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“Descubra o que a investigação do MP revelou sobre a ligação entre empresas de ônibus em SP e o crime organizado”

A operação “Fim da Linha”, liderada pela Polícia Militar de São Paulo com base em investigação do Ministério Público do Estado, atingiu a cúpula de algumas das principais empresas de transporte de São Paulo na semana passada.

Segundo o MP, as empresas Transwolff e Upbus são compostas por membros do crime organizado, com ligação direta com o Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior organização criminosa do estado.

As duas companhias são responsáveis pelo transporte de cerca de 650 mil passageiros por dia e 1.365 ônibus na capital paulista. Em 2023, elas receberam remuneração de R$ 800 milhões da prefeitura de São Paulo.

De acordo com os investigadores, três homens lideravam as empresas: Luiz Carlos Efigênio Pacheco, conhecido como Pandora, suspeito de financiar um plano milionário para tirar presos da cadeia; Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, condenado por tráfico de drogas e foragido da justiça há 10 anos; e Décio Gouveia Luís, o Português, condenado por organização criminosa e suspeito de ser o “braço direito” de Marcos Camacho, o Marcola, líder do PCC. O promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de São Paulo (Gaeco), afirmou que não foi constatada a participação de agentes ou servidores públicos no crime até o momento.

Segundo as investigações, os envolvidos no crime usavam a exploração do serviço de transporte público por ônibus na capital, por meio das duas empresas, para esconder a origem ilícita de dinheiro proveniente de tráfico de drogas, roubos e outros delitos.

Ao todo, a Justiça deferiu 52 mandados de busca domiciliar, quatro de prisão e cinco medidas cautelares. Até agora, a operação resultou na prisão de nove pessoas, três delas em flagrante, e na apreensão de 11 armas, 813 munições, R$ 161 mil em espécie, computadores, HDs e pen drives, dólares e barras de ouro. As investigações também levaram ao bloqueio de R$ 596 milhões. Veículos, lanchas e motos aquáticas estão entre os itens apreendidos, assim como um helicóptero usado quando foram mortos dois líderes de facções criminosas.

Prefeito ameaça romper contratos

Na semana passada, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), que é pré-candidato à reeleição neste ano, decretou intervenção nas duas empresas alvos da investigação. Valdemar Gomes de Melo, funcionário que trabalha há mais de 45 anos na SPTrans, empresa que administra os ônibus da capital paulista, foi nomeado como interventor para a Transwolff. Já Wagner Chagas Alves, que trabalha há 40 anos na SPTrans, foi designado como interventor para a Upbus. Os dois interventores trabalharão em conjunto com representantes da Controladoria Geral do Município, da Procuradoria Geral do Município e da Secretaria da Fazenda.

Na última quarta-feira (10), Nunes foi à garagem da UPBus acompanhado de uma equipe da SPTrans para avaliar a estrutura e o funcionamento da empresa. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o prefeito parabenizou a companhia pelo serviço prestado à população e defendeu sua gestão de qualquer irregularidade.

“Nunca demos dinheiro para qualquer atividade ilegal. A gente remunerou as empresas que participaram de uma licitação em 2019. Ganharam a licitação, estão operando e fazem transporte de passageiros. E é isso que a prefeitura paga: os ônibus, os funcionários que vocês estão vendo aí para atender a população”, disse Nunes.

“Agora, se existe alguém nessa empresa ou qualquer outra empresa ou qualquer fornecedor da Prefeitura de São Paulo que tenha alguma investigação, que tenha alguma coisa fora da questão contratual, não é compatível a prefeitura fazer essa análise. Isso é questão de Polícia Civil, de Ministério Público. O que nos compete como prefeitura é manter o atendimento à população, manter a qualidade do serviço, remunerar por aquilo que nós contratamos. Então, se nós contratamos ônibus para transportar as pessoas, a gente tem que remunerar”, continuou.

Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, exibida no domingo (14), Nunes afirmou que romperá os contratos com as empresas caso fique comprovada a ligação delas com o PCC. “Uma vez que for comprovado que existe alguma ligação com o PCC, automaticamente nós vamos romper o contrato”, prometeu o prefeito.

Há suspeitas de envolvimento do crime organizado com o serviço de transporte público em São Paulo desde a década de 1990, por meio do controle de perueiros que atuam clandestinamente. Segundo as investigações, apenas em 2015, o PCC teria injetado R$ 54 milhões na Transwolff, em um esquema de lavagem de dinheiro. A companhia tem 1.206 veículos e, entre 2015 e 2023, recebeu mais de R$ 5 bilhões da administração municipal. O MP também afirma que a facção criminosa injetou quase R$ 21 milhões na Upbus, para que ela pudesse participar de licitações. O contrato entre a prefeitura de São Paulo e a empresa teve início em 2018 e, no ano passado, a Upbus recebeu R$ 391 milhões.

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